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Conquista de Lisboa aos mouros sob o patrocínio de São Crispim e São Crispiniano
MC.PIN.0224

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Pintura de «história» de grandes dimensões, narra a Conquista de Lisboa aos Mouros, por parte das hostes cristãs, ocorrida em outubro de 1147, após um longo e violento cerco.

 

A atenção do observador é dirigida para a personagem que aparece à esquerda, montada num cavalo branco, com a espada em riste numa mão, e um escudo com as armas nacionais, na outra, para identificarmos D. Afonso Henriques, o primeiro rei de Portugal. A rodeá-lo está a horda de cruzados oriundos do norte da Europa, que aqui haviam chegado numa frota de cerca de 200 navios, a caminho da Terra Santa, para a Segunda Cruzada.

 

Iconograficamente, a Lisboa islâmica é representada com as fortes muralhas que a defendem, dentro das quais podemos vislumbrar alguns membros do exército muçulmano, identificados pelos estandartes com o crescente, os turbantes na cabeça e a utilização de arcos e flechas. A ocidente, o autor anónimo colocou o acampamento dos cruzados ingleses e normandos e, a oriente, o dos alemães e flamengos. Segundo relatos da época, esses acampamentos situavam-se, respetivamente, no Monte Fragoso, onde seria construída a igreja dos Mártires e na colina onde seria construído o Mosteiro de São Vicente-de-Fora. As tropas de D. Afonso Henriques fechavam o cerco à cidade, a norte, no Monte de Sant’Ana.

 

Sabemos o desfecho deste cerco. Perante a impossibilidade de vencer este numeroso exército, os lisboetas renderam-se ao fim de quatro meses. D. Afonso Henriques e os cruzados entraram na cidade conquistada a 25 de outubro, quando o calendário hagiográfico dedica o dia aos mártires irmãos, sapateiros, Crispim e Crispiniano, que surgem no canto superior esquerdo, como que patrocinando o evento.

 

O que não admira, já que esta obra foi executada (juntamente com outra de igual dimensão, dedicada ao martírio dos referidos santos, também no acervo do Museu de Lisboa – MC.PIN.0409) para uma ermida quinhentista, de invocação a S. Crispim e S. Crispiniano, Este templo foi edificado pela confraria dos sapateiros, na calçada que vai de baixo para os paços del-Rei, artéria que, após a construção da referida ermida, passou a ser conhecida por calçada de S. Crispim (hoje, escadinhas de S. Crispim, após a reconstrução pombalina). Do pouco que se sabe desta ermida, dizem-nos alguns olisipógrafos, caso de A. Vieira da Silva e G. de Matos Sequeira que era “uma formosa casa, cosida a ouro” (talha dourada). Arruinada pelo Terramoto de 1755, os mesmos oragos haveriam de sagrar uma pequena igreja, construída em 1786, na vizinha Rua de São Mamede ao Caldas, para onde estas telas foram transferidas. Com o passar das décadas, a água foi escorrendo pelo interior das paredes, fazendo perigar as pinturas. No final dos anos 30 do século passado, a C.M.L. adquiriu-as para o Museu da Cidade. Atualmente, a igreja de S. Crispim é um templo cristão ortodoxo da comunidade romena.

 

Retomemos a pintura em análise, onde tudo nos parece anacrónico: os trajes, as armas, o ajaezar dos cavalos, as embarcações e, até, a própria cidade, já com a Sé-Catedral construída. Na verdade, o seu autor anónimo apenas reproduziu a estética própria das batalhas seiscentistas, que obviamente nada tinham em comum com os cercos às cidades medievais.

 

Deixamos à reflexão o tema escolhido para esta pintura e a presumível data em que foi realizada. Há quem aponte para 1647, altura em que se comemoravam os quatrocentos anos da Tomada de Lisboa aos Mouros e proliferaram na arte portuguesa vários temas de carácter nacionalista e de exaltação patriótica sobre a Restauração, que passaram a decorar igrejas e palácios. Com grande probabilidade, a intenção do encomendador (cuja identidade é desconhecida) foi a de fazer um paralelismo histórico entre a expulsão dos mouros (1147) e a dos espanhóis (1640), ambos momentos cruciais para a fundação e a refundação da monarquia portuguesa.

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