A peça deve corresponder à decoração de uma igreja moçárabe (assim eram designados os cristãos da Península Ibérica que, durante a Idade Média, viviam sob domínio islâmico). Apesar de muito fragmentada, e de ter sido recolhida fora do contexto original, trata-se de um segmento de cancela que compunha uma iconóstase – barreira de separação litúrgica entre as naves e o coro do edifício religioso.

Limitada por duas faixas laterais de decoração geométrica, o centro da peça organiza-se em grandes molduras sobrepostas quadrilobuladas, dentro das quais se esculpiram elementos vegetalistas e geométricos e, na moldura superior, uma águia, de que restam a cauda e as duas garras. O modelo é semelhante a outras realizações artísticas bizantinas da mesma época. Esta semelhança leva a pensar que, à Lisboa moçárabe do século X, terão chegado obras de arte bizantinas (possivelmente tecidos), que serviram de inspiração aos escultores encarregues de decorar um dos templos da comunidade moçárabe local.