Retratando o grupo de personalidades que, durante as décadas de 50 e 60 do século XX, se reunia quase diariamente, ao final da tarde, no consultório de Francisco Pulido Valente (1884-1963) na Rua Garrett, este quadro constitui uma obra política antirregime, tendo em conta que as figuras representadas militavam politicamente em setores contestatários ao Estado Novo.

Abel Manta, que se fez retratar de pé, no canto superior direito, captou o grupo num momento de partilha. Aquilino Ribeiro, sentado, à esquerda, lê em voz alta para uma plateia atenta, presumivelmente, um dos seus romances. Francisco Pulido Valente, de bata branca, a fumar, ocupa o centro da composição. Nome incontornável da Faculdade de Medicina de Lisboa e da medicina portuguesa no período que decorreu entre 1920 e 1947, Pulido Valente foi o responsável por uma rutura com práticas do passado, ao tomar consciência de que era necessário aplicar à clínica as conquistas das disciplinas básicas que estavam então a nascer (Bacteriologia; Histologia; Fisiologia; Farmacologia e Anatomia Patológica), promovendo assim uma abordagem diferente dos caminhos que conduziam ao diagnóstico. O destaque que lhe é concedido pelo pintor prende-se naturalmente com o facto de ser ele o anfitrião de tão memoráveis tertúlias, que abordavam temas variados, da literatura à arte, da política à ciência, nas quais participavam cidadãos ativos da sociedade portuguesa que desempenharam papéis de relevo em várias áreas.