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[A peste obrigando os Castelhanos a levantar o cerco de Lisboa]
FERNANDES, Constantino Sobral (1878-1920)
MC.PIN.0225

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Pintura alusiva a um dos momentos cruciais da Revolução de 1383-85: o cerco a Lisboa.

 

A morte do rei D. Fernando, em outubro de 1383, trouxe um problema de sucessão ao reino: não tinha um herdeiro varão e a sua única filha, D. Beatriz, era casada com Juan I (r. 1379-1390), rei de Castela. Segundo o contrato de Salvaterra de Magos (abril de 1383), os reis de Castela eram proclamados reis de Portugal, ficando a rainha viúva D. Leonor Teles regente, até ao nascimento de um filho de D. Beatriz e Juan I, que aos 14 anos cingiria também a coroa do reino de Portugal.

 

Foram várias as cidades portuguesas que aclamaram o casal real de Castela. Não foi o caso de Lisboa, onde a arraia-miúda, os mesteirais e alguns nobres (filhos segundos) apoiavam D. João, Mestre da Ordem Militar de Avis (filho bastardo de D. Pedro I e meio irmão do falecido D. Fernando). Ainda em 1383, o Mestre de Avis foi eleito regedor e defensor do reino, com o apoio do povo e dos homens bons de Lisboa.

 

Reclamando o direito ao trono português, Juan I de Castela invadiu o reino e pôs cerco a Lisboa por terra e mar, no final de maio de 1384, assentando arraial junto ao Mosteiro de Santos (o-Velho), perto do rio e de vários navios que aí estacionara. A cidade ficou cercada, mas bem protegida pela muralha fernandina (construída entre 1373 e 1375), pelo que todas as ações ofensivas levadas a cabo pelos castelhanos fracassaram. O objetivo do cerco era, por isso, aguardar a rendição dos lisboetas (cerca de 35.000), perante a falta de mantimentos.

 

No arraial sitiante a peste fazia cada vez mais mortos. Foi preciso que ela chegasse a D. Beatriz, para que, a 4 de setembro, o cerco terrestre a Lisboa fosse levantado. Se a rainha morresse, desapareciam todos os direitos à coroa portuguesa por parte do rei castelhano.

 

Foi esta retirada das forças castelhanas, algo precipitada devido à peste, que Constantino Álvaro Sobral Fernandes (1878-1920) plasmou nesta obra. O artista, nascido em Lisboa e licenciado em Pintura Histórica (1895-99), pela Escola de Belas Artes desta cidade, relembrou, assim, um dos momentos cruciais em que os lisboetas mostraram a sua resiliência perante o inimigo.

 

Nesta pintura a peste é encarnada por uma figura assexuada, uma espécie de anjo da morte, que no lugar das asas tem uma enorme cabeleira cinzenta com laivos azulados, que se confunde com as vestes, planando sobre o exército castelhano. Com o dedo em riste, expulsa-o. O rei Juan I apresenta um semblante carregado, pela frustração de não ter conseguido a capitulação dos lisboetas, que resistiram à fome, perante um prolongado cerco. No canto superior esquerdo da pintura, vê-se um fogo, ateado pelos próprios castelhanos ao seu acampamento. Era de tão grandes proporções, que foi visto no castelo de Palmela, por Nuno Álvares Pereira, que aí se encontrava.

 

O cronista Fernão Lopes, na Crónica de D. João I, relata este episódio, no capítulo 150 da primeira parte.

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