O Mercado da Fruta do Cais do Sodré foi demolido em 2002 para dar lugar à unidade intermodal do Cais do Sodré. Para aquele mercado, Jorge Colaço (1868-1942) concebeu um programa ideologicamente orientado, com cenas de um quotidiano piscatório onde perpassa a harmonia entre as gentes do mar: um pescador remenda as redes; mais atrás, uma mulher amamenta o seu filho enquanto um par de namorados conversa; os homens regressam da faina e as mulheres dançam na praia… não faltou mesmo uma procissão na praia, para ilustrar esta sintonia de elementos naturais e culturais.

Neste painel em particular, Colaço aproveitou um conjunto de desenhos anteriores relativos à tradicional arte xávega da pesca, praticada na costa atlântica entre o Cabo Espichel e a foz do rio Douro. Dois desenhos hoje conservados no Museu Nacional do Azulejo (MNAz 542 Proj; MNAz 550 Proj) podem considerar-se como estudos para a composição final realizada no mercado do Cais do Sodré.

Os painéis, fabricados na Fábrica de Cerâmica Lusitânia em 1928, enquadram-se num momento de maior maturidade artística de Jorge Colaço. O desenho, mais fluído e depurado, ganha aqui preponderância. A composição, com planos equilibrados, a par da utilização harmoniosa da policromia (onde o branco domina, o que confere maior leveza ao produto final), contribuem para a qualidade superior desta obra, quando comparada com trabalhos de fases anteriores do autor. Do conjunto, que se encontrava em muito mau estado de conservação aquando da demolição do mercado, deram entrada no então Museu da Cidade 10 painéis.