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A Rainha Santa Isabel de Aragão no Campo da Batalha de Alvalade
BARATA, Jaime Martins (1899-1970)
MC.PIN.0146

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Encabeçando um dos mais longos e bem-sucedidos reinados da primeira dinastia, D. Dinis não conseguiu evitar a guerra civil, que o opôs ao seu filho, o príncipe herdeiro Afonso (futuro D. Afonso IV). Entre 1319 e 1324, a tensão vivida entre ambas as fações da nobreza levou a uma guerra civil. É neste âmbito que a intervenção da rainha D. Isabel de Aragão, esposa e mãe dos dois homens em conflito, se fez notar para serenar os ânimos.

 

O casal real, Dinis e Isabel, teve dois filhos. Mas o rei foi pai de vários bastardos, que legitimou, num total de seis.

 

O herdeiro ao trono, Afonso, sempre se sentiu incomodado com a preferência que o pai demonstrava por um dos seus filhos bastardos, Afonso Sanches, casado com Teresa Martins, uma Telo de Meneses, família nobre em ascensão devido aos enormes privilégios concedidos por D. Dinis, nomeadamente para cargos públicos. Afonso temia que, um dia, fosse preterido na sucessão ao trono a favor daquele bastardo.

 

O rei nunca encontrou em Isabel uma apoiante para a sua causa, desconfiando da óbvia proteção que dava ao filho, albergando-o nas suas terras e avisando-o das movimentações do pai. Por isso, em julho de 1321, D. Dinis desterrou-a para Alenquer, para evitar que auxiliasse o filho, retirando-lhe mesmo as arras de onde provinham os seus rendimentos. Mas Isabel de Aragão possuía uma rede de influências que sempre manteve ativa, para tentar apaziguar o conflito entre marido e filho, que se estendia ao papa João XXII e ao irmão, Jaime II de Aragão.

 

Em dezembro de 1323, pai e filho encontraram-se nos arredores de Lisboa, provavelmente nos campos de Alvalade (lugar que se convencionou considerar onde se encontra hoje o edifício da sede da CGD e o Palácio Galveias). O confronto, que se esperava violento entre as duas forças antagónicas, acabou apaziguado pelo aparecimento da rainha D. Isabel, montada numa mula. Alheada do perigo, já que o combate estava ativo “ferindo-se eles às espadas e aos dardos, jazendo alguns mortos”, irrompeu no meio dos dois exércitos, que ficaram a rodeá-la. Idolatrada por todos, ninguém ousou afrontá-la. A batalha terminou.

 

As pazes entre pai e filho foram, finalmente, celebradas em Santarém, a 26 de fevereiro de 1324. D. Dinis afastou o filho bastardo Afonso Sanches do cargo de mordomo-mor. Este, acabou exilado em Castela, no seu domínio de Albuquerque e o monarca acabará os seus dias, na mesma cidade de Santarém, a 5 de janeiro do ano seguinte.

 

Foi este episódio da batalha de Alvalade, que Jaime Martins Barata retratou, quando a Câmara Municipal de Lisboa, em 1947, para comemorar os “800 anos da tomada de Lisboa aos mouros”, produziu um livro que ilustrava a história da cidade: Lisboa 8 séculos de História. O autor, professor de desenho em vários liceus, ficou responsável pela ilustração histórica e evocativa de numerosas reconstituições, em que pôde dar largas ao seu gosto pela verosimilhança e fundamentação documentada, provavelmente com um evidente e íntimo apoio dos amigos olisipógrafos Norberto de Araújo e Gustavo de Matos Sequeira. O artista já tinha efetuado o tríptico que decora a escadaria principal do Palácio de S. Bento e os dois painéis para o átrio do Conservatório Nacional, no Bairro Alto.

 

O episódio relatado, independentemente do rigor ou da fantasia, e a sua piedade contributiva para inúmeras obras sociais, dão bem a ideia da existência de uma tradição “algo milagrosa”, ligada à rainha D. Isabel de Aragão. Aliás, foram algumas das razões do pedido de beatificação que D. Manuel I endereçou ao papa Leão X, em 1516. A canonização da rainha Santa veio em 1625.

 

A Batalha de Alvalade encontra-se relatada na Crónica de Portugal de 1419 (anónimo) e na Crónica D’el-Rei D. Dinis, de Rui de Pina.

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