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E assim seria Lisboa mourisca toda de branco deitada como noiva na sua alcova nupcial
BARATA, Jaime Martins (1899-1970)
MC.PIN.0157

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Esta obra pretendeu reconstituir a Lisboa do período islâmico (714 a 1147). O seu autor respondeu, desta forma, ao convite da Câmara Municipal de Lisboa que, em 1947, para comemorar os 800 anos da tomada de Lisboa aos mouros, produziu um livro que ilustrasse a história da cidade: Lisboa 8 séculos de História. Jaime Martins Barata, professor de desenho em vários liceus, ficou responsável pela ilustração histórica e evocativa de numerosas reconstituições, em que pôde dar largas ao seu gosto pela verosimilhança e fundamentação documentada, provavelmente com um evidente e íntimo apoio dos amigos olissipógrafos Norberto Araújo e Gustavo Matos Sequeira. O artista já tinha efetuado o tríptico, que decora a escadaria principal do Palácio de S. Bento e os dois painéis para o átrio do Conservatório Nacional, no Bairro Alto, embora o próprio considerasse serem obras de “simples registo de restos do passado” e não reconstituições.

 

Ao observarmos esta Lisbûna medieval, adaptada à topografia da colina da Alcáçova descendo até ao rio, vemo-la rodeada por uma muralha “notável e bem construída”, como a classificaram geógrafos e viajantes árabes coevos e, mais tarde, os cruzados de 1147.

 

Embora o olhar do observador alcance apenas os lados ocidental e sul da referida muralha (o lado oriental adivinha-se), desenhada ao pormenor, o seu protagonismo contrasta com o urbanismo apresentado como um aglomerado denso, monocromático, como se sobre a cidade tivesse caído um nevão, sem a definição de um edifício, uma casa ou uma rua, assente no tradicional preconceito sobre o “urbanismo islâmico”, como algo caótico, irregular, estreito e desordenado, que, aliás, estudos recentes vieram pôr em causa.

 

Mas Martins Barata sabia bem da importância das muralhas para uma cidade antiga, não apenas para a sua defesa, mas também para separar o espaço urbano dos arrabaldes, que aliás representa a ocidente com uma ocupação assinalável, que se julga, hoje, ser já a Judiaria (Velha ou Grande, desmantelada no final do século XV).

 

A muralha é apresentada com um número considerável de torres, algumas flanqueando as três portas da cidade (a ocidente e a sul), localizadas nos extremos das principais vias internas e de ligação ao exterior, nomeadamente: a porta da Alfôfa (postigo); mais abaixo, a Porta do Ocidente, também conhecida por Porta de Ferro, a principal e a maior entrada para a medina, descrita pelos observadores coevos como sendo “encimada de arcos sobrepostos, que assentam sobre colunas de mármore”, e finalmente, a sul, onde o rio embate, uma terceira entrada/saída, a Porta do Mar.

 

Atualmente, os vestígios existentes destas muralhas integram a chamada “Cerca Velha” (classificada como Monumento Nacional, em 1910), entendida como a muralha medieval (islâmica e cristã) e os troços das muralhas romanas reaproveitados (datados dos séculos I e IV), ainda visíveis em alguns locais da malha urbana atual.

 

Como observadores privilegiados, estamos junto ao artista, na colina do monte Fragoso ou de São Francisco (por lá se ter construído o primeiro convento franciscano da cidade), hoje, largo da Academia das Belas Artes, ao Chiado, e reparamos na ausência dos “dois ribeiros que vão desaguar ao mar, como os coevos assinalaram, sempre que descreveram Lisbûna. Erro grosseiro na bacia hidrográfica do vale da Baixa, junto ao arrabalde, de onde deveria ser visível o esteiro do Tejo, o tal braço do rio que se estendia pela Baixa dentro, juntando-se às duas ribeiras que, vindas do Norte, se fundiam na zona do Rossio, e que apenas foram encanadas durante o século XV.

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