Os ex-votos são objetos oferecidos pelos fiéis aos santos da sua devoção, em cumprimento de um agradecimento (voto) pela graça alcançada num momento de aflição. A pintura representa uma criança a ser retirada dos escombros provocados pelo terramoto de 1755, sendo a cena testemunhada por Nossa Senhora da Estrela. Tal como a inscrição refere, a peça foi mandada realizar por Leonardo Rodrigues, cuja filha, depois de ter estado sete horas soterrada, foi salva milagrosamente graças à intercessão da Virgem.

A catástrofe de Lisboa foi desenhada e pintada por muitos artistas estrangeiros que nunca estiveram na capital portuguesa, mas que conheciam a fisionomia da cidade através de gravuras que circularam na Europa. A maior parte das visões do terramoto revela uma Lisboa composta por muitas torres altas, como se se tratasse de uma cidade do norte do continente, totalmente arrasada por derrocadas, consumida pelo fogo e invadida pelo rio.

Algumas gravuras pretenderam ser mais rigorosas. Estão neste lote as obras de Jacques Philippe le Bas, gravador da corte francesa que elaborou um conjunto de seis vistas a partir de desenhos invertidos de Miguel Tibério Pedegache, enviados propositadamente para Paris. Apesar de menos exageradas que outras visões da cidade arruinada, as obras de Le Bas incluem ainda elementos fantasiosos, destinados a reforçar a desolação provocada pelo terramoto.

Ao contrário do que foi frequente na pintura de ex-votos, cujos encomendadores recorreram maioritariamente a artistas de escassa formação, responsáveis por obras assumidamente ingénuas e apressadas, o cidadão lisboeta Leonardo Rodrigues – acerca do qual não se conhecem mais dados biográficos – encomendou esta pintura a um pintor consagrado, que aproveitou o formato de ex-voto e um episódio verídico para realizar uma das vistas mais realistas da ruína provocada pelo terramoto.

Apesar de não se encontrar assinada, deve ter sido realizada por um pintor lisboeta que sobreviveu ao terramoto, tendo já sido sugerida a autoria de João Glama (que pintou uma extraordinária vista de Lisboa arruinada, hoje no Museu Nacional de Arte Antiga, 1746 Pint), ou do próprio Vieira Lusitano (um dos mais afamados artistas da época).